PAPAGAIO CONGELADO
Um dia, um sujeito ganhou de
presente um papagaio.
O bicho era uma praga. Não demorou
muito, logo se espalhou pela casa.Atendia o telefone.
Gritava e falava sozinho nas horas mais inesperadas.
Dava palpite nas conversas dos outros.
Discutia futebol.
Fumava charuto.
Pedia café, tomava, cuspia, arregalava os olhos, esparramava sementes de girassol e cocô por todo lado, gargalhava e ainda gritava para o dono da casa: “Ô SEU DOUTOR, VÊ SE NÃO TORRA FAZ FAVOR!”
Uma noite, a família recebeu uma visita para jantar.
O papagaio não gostou da cara do visitante e berrou: “Vai embora. Ratazana!” e começou a falar cada palavrão cabeludo que dava medo.
Depois que a visita foi embora, o dono da casa foi até o poleiro. Estava furioso:
- Seu mal educado, sem vergonha de uma figa! Estou cheio! Agora você vai ver o que é bom pra tosse.
Agarrou o papagaio pelo cangote e atirou dentro da geladeira:
- Vai passar a noite aí de castigo!
Depois, fechou a porta e foi dormir.
No dia seguinte, saiu atrasado para o trabalho e esqueceu o coitado preso dentro da geladeira.
Só foi lembrar do bicho a noite, quando voltou para casa.
Foi correndo abrir a geladeira.
O papagaio saiu tremulo e cabisbaixo, com cara de arrependido, cheio de pó de geladeira na cabeça.
Ficou de joelhos.
Botou as duas asas na cabeça.
Rezou.
Disse pelo amor de Deus.
Reconheceu que estava errado.
Pediu perdão.
Disse que nunca mais ia fazer aquilo.
Jurou que nunca mais ia fazer coisa errada, que nunca mais ia atender o telefone e interromper conversa, nem xingar nenhuma visita.
Jurou que nunca mais ia dizer palavrão nem “vai embora, ratazana”,
Depois, examinando o homem com os olhos arregalados, espiou dentro da geladeira e perguntou:
- Queria saber só uma coisa: o que é que aquele franguinho pelado, deitado ali no prato, fez?
Anedota recontada por Ricardo de Azevedo,
Extraído da revista Nova Escola, Ed. Especial nº13
Nenhum comentário:
Postar um comentário